Diversão e Arte

Ultimamente parece que a palavra de ordem é diversão. As aulas mais divertidas ou o quanto os educandos se divertem na sua aula ou ainda, você considera esta uma aula divertida? E me ficam perguntas: uma educação de qualidade pressupõe que todas as aulas têm que ser divertidas? E o nosso jovem educando sempre sabe discernir entre uma aula de qualidade e os momentos de diversão?

Muitas vezes, pensar pode não ser divertido para alguns, porque pensar dá trabalho. Para a faixa etária que engloba a adolescência se divertir pode estar associado a uma lista limitada de itens que vão da TV ao Facebook, passando pelos games. Ainda completa o quadro a ida ao cinema, shopping e passeio com os amigos, namorados e família. E trazendo a questão para o mundo adulto, poucas são as pessoas, inclusive, que se divertem com o trabalho. Entretanto, o significado de diversão está associado ao universo de vivência de cada um e pode mudar de uma pessoa pra outra. O que é divertido pra um pode não ser para outro. Daí a dificuldade em entender uma classificação para as aulas como divertidas ou não divertidas.

Os temas também contribuem para uma aula mais ou menos divertida, porém os conteúdos estão atrelados a uma grade curricular, e em muitos casos o educador fica limitado na elaboração das aulas… Uma aula pode ser divertida e ensinar ao mesmo tempo quando envolve metodologias e temas que estão mais próximos do universo de interesse dos alunos, mas muitas vezes, encontramos dificuldades em elaborar todas as aulas assim, pois são aulas que dependem de uma estrutura diferenciada, o que pode não ser possível ao professor (e à escola). Tempo para elaboração e desenvolvimento de propostas e a estrutura da escola são fundamentais nessa logística.

A prioridade deve estar em apresentar oportunidades para reflexão sobre a sociedade e a produção artística/cultural da humanidade (no caso das artes), a diversão deve vir por consequência. E não virá para todos, mas para aqueles que conseguem ver importância no crescimento pessoal e coletivo, e conseguem abrir a cabeça para novas possibilidades. Portanto, se diverte quem está aberto e interessado em conhecer coisas novas.

Além disso, alguns  jovens em formação, não reconhecem como educativas e instrutivas, posturas dos educadores que exigem atitudes de respeito, assiduidade, dedicação e trabalho. Assim, os mais exigentes, tendem a ter as aulas consideradas mais chatas que os menos exigentes.

O foco de interesse do aluno, principalmente no Ensino Médio, também define o conceito de “diversão” para uma aula ou outra, pois a afinidade com determinadas áreas de conhecimento reforçam as preferências por uma disciplina ou outra.

No caso da arte, é uma questão cultural em nosso país a desvalorização das manifestações artísticas e culturais. Não há muitas políticas de incentivo às artes e na educação a disciplina é preterida em relação à outras de caráter mais “importante”. Sem a continuidade das aulas ao longo dos anos com um conteúdo estruturado, os educandos não desenvolvem a prática de refletir sobre a produção cultural de sua e de outras sociedades e épocas, e sem conhecimento cria-se resistência à disciplina. Não entendemos, por isso não gostamos.

Quando o trabalho faz sentido para o educando, quando ele compreende e aprende a discutir o conteúdo, o envolvimento tende a ser maior. Mas, para isso, é preciso tempo e continuidade no processo educativo. É preciso conseguir dialogar com esse educando. E é preciso apresentar para ele as possibilidades de interação.

Por outro lado, a arte pode proporcionar momentos de diversão durante o processo de trabalho, mas também, ao expor a produção dos alunos. Há a oportunidade de ensinar a ter uma postura crítica ao selecionar os trabalhos que serão expostos, além de avaliar e ressaltar a importância do envolvimento no processo como causa para a consequente exposição das produções. Ter um trabalho exposto eleva a autoestima, estimula o aprendizado para o trabalho colaborativo visando o grupo e valoriza a produção individual e coletiva.

Não se trata de competição, nem da preocupação ou do estímulo em fazer bem feito para ser “o melhor”. Trata-se de sentir orgulho por fazer algo bacana, e que ainda contribui para tornar o espaço “diferente”.

 

Esta foi a experiência com uma das etapas do projeto Pixel Art em 2012, quando os educandos do 1º ano foram convidados a realizar uma instalação criando painéis em Post-it pelas paredes do Colégio Estadual José Leite Lopes/NAVE-RJ.

Neste caso, em cada grupo de 6 ou 7 componentes, foi escolhida a imagem de um deles que deveria ser reconstruída no painel. Em nenhum momento houve relutância ou reclamação por terem que trabalhar na imagem de autoria de outra pessoa, pelo contrário, se mostraram motivados e adotaram a imagem escolhida como “deles”. O grau de motivação e compromisso pode ser observado já que os educandos desconheciam o valor da pontuação da tarefa e não se preocuparam em sinalizar colegas que não estivessem colaborando com o projeto, como acontece com frequência em trabalhos em grupo.

Se o trabalho não tivesse sido divertido, a tarefa cumprida cairia em esquecimento em seguida. O observado foi que o assunto e troca de fotos de estendeu pelos perfis e grupo do Facebook da turma ainda por dias. Mesmo que para alguns a experiência tenha sido cansativa e estressante, o que é perfeitamente compreensível diante de um desafio, para muitos a lembrança de uma conquista ensinou que os desafios podem ser superados, e esta é uma das funções da escola.

 

Último Post-it

Capacidade de concentração

Trabalho colaborativo

Um pouco de brincadeita faz parte

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